quarta-feira, 25 de março de 2009

Os gagos e eu


Gente, tem coisa que só acontece comigo.

Os gagos me perseguem! Acho que desde que comecei profissionalmente no jornalismo, não passo um mês sem entrevistar alguém com esta deficiência. A primeira experiência foi em Divinópolis, região centro-oeste de Minas, onde era produtora de um telejornal. Tinha um surto de leishmaniose em uma cidade vizinha. E adivinha quem me ligou para falar que havia uma criança internada com a doença?Acertou quem respondeu gago. Na verdade era uma gaga. E pra minha falta de sorte, a ligação caiu antes que eu pudesse anotar contatos e tudo mais. Resumindo: vimos a notícia no nosso concorrente, levei uma bronca colossal do meu chefe quando contei a ele que a moça havia ligado. Felizmente conseguimos reverter a situação a tempo e ninguém soube do nosso quase furo.


A segunda vez foi em Uberaba, triângulo mineiro. Lá eu era repórter e me aparece um figurão da Infraero com quem eu não podia deixar de gravar. Afinal, era uma matéria sobre aeroportos. E o homem foi ficando nervoso e quanto mais tenso ele ficava, mais as palavras se embolavam na boca dele. Com muito custo nós gravamos e os meus colegas se viraram para editar o VT. Pra falar a verdade nem vi o resultado disso no ar, mas deve ter salvado alguma coisa.


Desde que voltei a ser repórter, topei com gagos algumas vezes. Teve um dia que caiu uma daquelas chuvas fortíssimas de verão em Montes Claros e nós fomos até as regiões mais atingidas e o bombeiro que gravou comigo, adivinhem, tinha um grave problema de dicção. Tudo bem! A situação já não é novidade mesmo. A gente respira fundo e vai em frente.


Mais ou menos uns quinze dias depois, num acidente em uma rodovia, os bombeiros estavam lá prestando os socorros. Eis que, quando fui conversar com o comandante da operação para saber como havia sido o tal acidente, ele não gagejou. Simplesmente ficou MUDO. Isso mesmo, o gato comeu a língua dele. E quem o fofo me chama pra dar entrevista????? O gago. O mesmo do dia da chuva. Sintentizando o pensamento: saí do muito ruim e fui para o pior ainda.


E no último episódio da série "Os gagos me perseguem", um holdie (aqueles caras que montam os palcos em shows e monitoram o trabalho dos músicos durante as apresentações) gago estava no meio do caminho. E o pior de todos. Um gago tagarela. Eu posso com isso? Confesso que me causou um misto de graça e nervoso.


Ahh, tem mais um detalhe mínimo nisso tudo. Eles sempre aparecem nos dias em a equipe está mais apertada. Ai que agonia!


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Quero que fique claro que compreendo quando alguém tem alguma dificuldade. Também sei que tem gente que fica tensa quando vê uma equipe de televisão na sua frente. Super normal. Não fico rindo das pessoas e seus problemas. Minha intenção aqui é de apenas compartilhar com meus amigos uma das situações que vivo na rua e que encaro com bom humor.


Sei que nem todos podem pagar por um tratamento com fonoaudiólogo para curar - ou pelo menos amenizar - o problema. Mas existem clínicas escolas (agora já nem sei mais o que tem hífem ou não, desculpem) que podem ajudar pessoas com esta deficiência. Fica aí a minha dica para gagos, seus amigos e parentes.

Um comentário:

Ana Paula Neves disse...

HA HA HA HA HA...Adorei!!! Eles te perseguem mesmo!!!